
27 out A produção de etanol no Brasil a partir do grão de milho se consolidou como uma realidade viável, competitiva e lucrativa
A produção de etanol no Brasil a partir do grão de milho se consolidou como uma realidade viável, competitiva e lucrativa para a indústria do álcool na última década. Isso se faz porque o milho soluciona os problemas resultantes: do período ocioso da entressafra da cana-de-açúcar;
- da validade de utilização da cana como matéria-prima;
- da logística dispendiosa do armazenamento dos grãos de milho na agricultura;
- e ainda, agrega valor ao grão de milho que no passado apresentava instabilidade nos preços de suas sacas.
A rentabilidade gerada pelo uso do milho como matéria-prima na indústria de etanol se deve ao fato de que sua produção além de obter o etanol como produto principal, gera também outros subprodutos:
- como o óleo,
- o xarope de milho;
- e os DDGs (Dried Distillers Grains),
sigla em inglês para grãos secos de destilaria, que vem sendo largamente utilizado na alimentação de animais em substituição parcial do milho.
No Brasil, a flexibilização de indústrias de cana-de-açúcar com milho é mais comum no estado do Mato Grosso, maior produtor de milho do país. A utilização do milho como matéria-prima na indústria do etanol é uma alternativa viável devido às projeções de mercado para o consumo de etanol em 2026.
Nos últimos anos, o mercado mundial do milho vem se reestruturando visando a atender a crescente demanda por combustíveis renováveis, além da produção de álcool para bebidas e fins industriais. Esse cereal tornou-se uma das principais fontes para produção de etanol (SOLOGUREN, 2007). O Brasil e os Estados Unidos são lideres mundiais na produção de etanol. A produção mundial de etanol, em 2006, foi de 13,5 milhões de galões. O Brasil contribuiu com 33,3% desse volume, produzindo álcool a partir da cana-deaçúcar, e os Estados Unidos produziram 36,3%, a partir do milho (SOUZA & ANDREOLI, 2007). No ano de 2009, o Brasil foi o terceiro principal produtor dessa commodity, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da China (TONIN & PERON, 2009). Apenas 5% do milho produzido no país destina-se ao consumo in natura , 65% são utilizados na alimentação animal e 30% são processados na indústria. São Paulo e Paraná são os principais Estados produtores de milho (CRUZ & PEREIRA FILHO, 2005).
Tipos de secadores Diversos são os critérios para se classificar os secadores. A seguir, é apresentada na tabela 2, a divisão de Strumillo (1986) que demonstra critérios para a classificação de secadores.
Tabela 2 – Critérios para a classificação de secadores. Critério para a classificação Exemplo do tipo do secador Pressão no secador Atmosférica ou vácuo Método de operação Contínua ou em batelada Método de suprir o calor Convecção, contato, infravermelho, dielétrico e sublimação Tipo do agente de secagem Ar quente, vapor superaquecido, líquidos aquecidos e gases rejeitados Direção do fluxo de calor e sólidos Co-corrente, contracorrente e fluxo cruzado Método do fluxo do agente de secagem Livre ou forçado Método do carregamento da umidade Com agente externo de secagem, com gás inerte, com absorção química da umidade. Forma do material úmido Líquidos, granulares, pós, pastas, folhas, camadas finas, lama Tipo do fluxo do material (condição hidrodinâmica) Regime estacionário, transiente ou disperso Escala de operação De 10 kg/h até 100 ton/h Construção do secador Bandejas, túnel, esteira, tambor rotatório, leito fluidizado e muitos outros
Sistemas de secagem Devido à inexistência de uma tabela oficial que descrevesse todos os sistemas de secagem, (PARK et al., 2007b) propuseram a tabela 2.9: Tabela 1 – Sistemas de secagem. Fonte: Park et al. (2007b)
Diferentemente do processo de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, a produção a partir do milho se inicia com a limpeza dos grãos, que passam por um processo de desintegração mecânica e térmica, a fim de gelatinizar o amido presente no grão e prepará-lo para o processo de sacarificação enzimática, em temperaturas entre 65ºC e 80ºC. Os grãos são triturados em moendas e cozidos em água fervente ou vapor. A hidrólise do amido ou sacarificação é feita, principalmente, através de método enzimático. O mosto de milho sacarificado, após ser diluído a aproximadamente 15% de açúcar, é colocado numa dorna, juntamente com nutrientes para as leveduras. O pé de cuba consiste de fermento previamente cultivado e multiplicado em uma dorna separada, objetivando aumentar o volume de inóculo, já que, neste processo, não há reciclo de fermento. Com a adição do fermento na dorna, as células de levedura continuam a se multiplicar e, simultaneamente, produzem etanol. A fermentação leva aproximadamente de 28 a 30 horas, permitindo a degradação de 94% dos açúcares do mosto. Em condições práticas, um quilograma de amido produz 520 g ou 670 mL de etanol. Diferentemente da produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, o fermento não pode ser separado do vinho devido à natureza física do mosto de milho, mais denso e com material sólido em suspensão. Assim, após o término da fermentação, todo o conteúdo da dorna é destilado, passando pelas etapas de destilação, retificação e desidratação.
ANÁLISE
Após o contato com o departamento de economia agrícola e o departamento de análise agronômicas do Ministério da Agricultura, foram levantadas informações específicas sobre o funcionamento do programa ABC, que ao público em geral e em alguns veículos de informações se mostram expostos precariamente e com informações muitas vezes defasadas. 29 As mudanças climáticas trouxeram ao governo brasileiro a necessidade de oferecer respostas as alterações do clima frente as atividades agropecuárias expansivas responsáveis pela alta emissão de CO2. No ano de 2009 ocorreu a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, o chamado COP 15.
O Brasil, participante ativo da conferência e interessado nas medidas de minimização dos impactos ambientais se comprometeu a deixar de emitir um bilhão de toneladas de CO2 até o ano de 2020. Para tanto é de fundamental importância promover métodos produtivos e meios capazes de assegurarem a redução de emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa e ao mesmo tempo garantidores de maior renda ao produtor rural.
Em 2010 o Programa ABC foi criado pelo governo federal com o intuito de atingir as já citadas metas de cunho ambiental, passando a oferecer incentivos aos produtores rurais para a adoção de técnicas agrícolas sustentáveis. Tais ambições do programa procuram atingir o objetivo de proporcionar a produção agrícola, florestal e pecuária garantindo mais renda ao produtor, produzindo mais alimentos para a população brasileira ao mesmo tempo aumentando a proteção ao meio ambiente.
Também foi possível levantar as práticas específicas financiadas pelo programa ABC que atendem as exigências modernas de produção, são elas:
∙ Sistema de Plantio Direto – que por meio da manipulação do solo apenas no momento do plantio reduz a erosão com a semeadura sobre os restos culturais e palhas que são mantidas na superfície no período de entre safra, ∙ Integração lavoura – pecuária – floresta – prática que se baseia na diversificação da cultura de pastagens, agricultura e floresta concentradas em uma mesma área, recuperando o solo, incrementando a renda e gerando empregos no campo;
∙ Fixação Biológica do Nitrogênio – utiliza microorganismos/bactérias para assim captar o nitrogênio presente no ar e transformá-lo em matéria orgânica para as culturas; 30 ∙ Recuperação de Áreas Degradadas – método capaz de transformar as terras desgastadas em áreas produtivas para a produção de alimentos, fibras madeiras e matérias-primas.
∙ Plantio de Florestas – com a plantação de pinus e eucalipto proporciona uma renda adicional que reduz o carbono da atmosfera por meio do oxigênio liberado pelas árvores ∙ Tratamento de Resíduos Animais – os dejetos de suínos e outros são aproveitados para a geração de energia (gás) e de compostos orgânicos. Com esta prática é possível obter a certificação relativa à redução de emissão de gases emitida por mercados compradores.
Essas práticas de produção e manejo dos recursos naturais disponíveis para produção são há muito difundidas para redução dos impactos da agricultura no solo e na atmosfera. Foi informado pelo Dr. Wilson que esses métodos de produção ainda não chegaram a 5% do número de propriedades rurais produtoras, sendo de grande relevância o papel do programa de financiamento para expandir a produção sustentável pelo território produtivo nacional.
Cabe então apontar o papel relevante dos órgãos de fiscalização que certificam o seguimento das práticas sustentáveis pelos tomadores do crédito. Os agentes financeiros e funcionários da Embrapa seguem por certificarem a correta utilização do crédito voltada para a atividade exposta no projeto no momento da negociação do contrato.
Como já citado, o Brasil se comprometeu em reduzir um bilhão de toneladas de CO2 até 2020 e para tanto é necessário o acompanhamento próximo da aplicação dos recursos garantindo a corrida ao alcance de tal meta. Para que o produtor seja autorizado a tomar o crédito, são impostas a ele regras que se encontram expressas no manual do ABC na resolução 3979 do Banco Central, que caso não atendidas impossibilitam ao acesso do demandante aos recursos oferecidos pelo programa.
Pela experiência do supervisor Dr. João Cláudio Da Silva E Souza e entrevistas que fizemos, acabamos por concluir que tais exigências e a forte burocracia que envolve todo esse arranjo normativo minimizam os riscos de inadimplência, mas ao 31 mesmo tempo dificulta o acesso ao programa. Sobre esse tema normativo e seus empecilhos serão expostos argumentos mais a frente, quando alcançarmos o tópico de conclusão deste relatório